sexta-feira, 8 de abril de 2011

"Carta aberta" a todos os cidadãos que votam PS ou PSD

O 25 de Abril de 1974 e a Constituição que um ano depois foi aprovada, estabeleceu em Portugal um regime democrático de base partidária, à semelhança da maioria das democracias do mundo.

Nos primeiros anos, os partidos foram inundados por novos militantes cheios de vontade de dar o seu contributo à construção da democracia e do país. Nunca como então, os partidos tiveram uma vida interna tão intensa e tanta qualidade nos seus militantes e dirigentes eleitos.

Mas com a estabilização democrática e entrada de Portugal na CEE (1985), muitos militantes deixaram de acompanhar a vida dos seus partidos (que naquele tempo exigia um grande consumo de tempo em reuniões - não havia Internet) e dedicaram-se às suas vidas profissionais.  As novas gerações também já não viam na participação política um dever cívico relevante (o país estava no bom caminho) e as suas vidas profissionais eram desafiantes e muito recompensadoras, não lhes dando tempo ou interesse em participar num partido.

Neste processo PS e PSD foram perdendo cada vez mais militantes. Ficaram e entraram nestes partidos essencialmente aqueles que queriam fazer carreira ou aceder a um dos muitos empregos que estes partidos oferecem aos militantes abnegados.

Mas para conquistar melhores lugares e mais poder dentro destes partidos era necessário ganhar eleições internas, ter votos. Dada a reduzida e decrescente base de militantes, para conquistar votos passou a ser necessário “arrebanhar” militantes- subalternos que garantissem votos para ganhar eleições.  Mesmo quem não gostasse dessa prática, se queria ter protagonismo no partido, tinha de entrar no jogo da compra e arrebanhamento de votos.

Assim, e nas ultimas duas décadas, muitas centenas de dirigentes partidários construíram o seu “sindicato de votos”, isto é , um exercito de militantes-subalternos que a única coisa que fazem no partido é votar em quem o “chefe” manda. Claro que manter este exército de votantes custa dinheiro, desde pagar quotas até outras regalias, como por exemplo, promoções no trabalho.

Infelizmente, a realidade é que este foi o processo de “aprofundamento democrático” que PS e PSD viveram últimos 20 anos. Hoje temos os nossos dois principais partidos dominados pelo chamado “aparelho” “oligarquia” “maquina oleada”, palavras que descrevem as tais centenas de dirigentes que dominam os muitos milhares de votos, que decidem todas as eleições internas do partido. Hoje, os destinos da nossa democracia e do nosso país dependem destes senhores. Só acedem a lugares relevantes dentro do partido (seja uma secção, concelhia ou líder do partido), quem eles querem e nas condições que eles “impõem” a esses candidatos. Quem tem uma agenda de mudaça que vá contra os seus interesses, é "esmagado" nas eleições internas pela tal "máquina" de votos, e quase invariavelmente desiste da vida partidária.

Mas a verdade é que este fenómeno só se pôde desenvolver e consolidar, porque nos últimos 20 anos a esmagadora maioria dos cidadãos esclarecidos, com vida e profissão fora da política e que votam no PS ou PSD, demitiram-se de ter voz e voto nas eleições internas destes dois partidos, retirando assim aos nossos dois principais partidos a possibilidade de ter uma imensa maioria de militantes-cidadãos livres e informados, fundamentais para que as eleições internas sejam processos verdadeiramente democráticos, representativos e que permitam eleger melhores dirigentes e lideranças, afastar quem cometa abusos ou seja incompetente,  e abrir espaço à renovação e qualificação da política.

Todos os vícios e criticas que hoje se fazem a estes dois grandes partidos (clientelismo, falta de representatividade, incapacidade de se renovarem etc...) têm origem na falta de uma imensa maioria de militantes que sejam cidadãos com vida e profissão fora da política, e que imponham uma dimensão cidadã, a eleição dos melhores, a capacidade de renovação e a meritocracia dentro destes partidos, através do poder do seu voto, da sua critica e da sua inflexibilidade para com os abusos e incompetências.

Tanto no PS como no PSD há muita gente que está insatisfeita e quer mudar o estado das coisas. Mas precisam de votos e apoio dos militantes do partido, mas paradoxalmente, a esmagadora maioria dos cidadãos que concorda com essas ideias de mudança, não está filiada em qualquer um destes partidos, logo não dá qualquer apoio prático às mudanças que defende.


Nenhum partido de poder do mundo actual, pode aperfeiçoar-se se internamente não tiver uma vida democrática saudável e muitíssimo participada pelos cidadãos, em especial, com o seu voto esclarecido e livre nas eleições internas do partido. A política e os partidos, são um assunto demasiado sério para ser deixado apenas para os políticos e dirigentes partidários.

Se queremos que o nosso país progrida, se desejamos um melhor futuro para as novas gerações e para os nossos filhos, temos o dever de assegurar que a nossa democracia e os partidos que elegemos funcionam bem. Essa responsabilidade é nossa, e cumpre-se se nos filiarmos, acompanharmos com atenção a vida do partido (felizmente hoje com a Internet, quase tudo pode ser feito a partir de casa ou trabalho) e participarmos esclarecidamente nas suas eleições internas, votando nos melhores, promovendo com o nosso voto a renovação e aperfeiçoamento dos nossos principais partidos.

"A penalização por não participares na política, é acabares por ser governado pelos teus inferiores." (Platão)


Nota: partilhem esta nota com todos os amigos e conhecidos que votam PS e PSD e não estão filiados nestes partidos.

7 comentários:

  1. O voto noutros partidos também é uma opção. Votar PS ou PSD "porque só estes é que contam" é a maior falácia deste "jogo".

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  2. Ao que chegamos....acho que está provado e mais que provado que a partidocracia faliu,por isso EU NÃO VOTO.

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  3. ´ós donos dos partidos ´` pensam que o povo é eternamente burro ao ponto de acreditarem que já mais mudaremos as nossas ideias e tendências de voto , daí aquela máxima: são todos iguais o que querem é taxo! e pendurados nela não mudam e depois temos em lugares de destaque gente com 7 pelouros , que o único curriculum que tem é serem militantes da JOTA à vinte 20 Anos ...

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  4. "serem militantes da JOTA à vinte anos" ????????, a militância através de obrigação estatutária, situa-se a partir dos 14 anos até aos 30 anos, por isso volto a interrogar, 20 anos???, se querem comentar pelo menos façam-no sem ignorância.

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  5. É exactamente o que estou a fazer.
    Não só postar isto no meu mural do FB como enviar esta mensagem de direito e obrigação à cidadania a dezenas de pessoas que sentem e pensam como eu e espero não me venham a desiludir - passando a mensagem a outros tantos....Não chega de palavras. É preciso actuar e actuar JÁ!

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  6. Não esperem mais tempo. É preciso mudar!
    É preciso ter voz activa
    É preciso dizer BASTA
    É preciso que nos empenhemos por um Portugal melhor, em que não sejamos humilhados, nem vilipendiados.
    É preciso que tenhamos futuro!
    É preciso vermos um futuro para os nossos FILHOS E NETOS.
    Não se acomodem! Não desanimem! Trabalhem e lutem pela mudança.

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  7. Concordo plenamente! Esta na hora de assumirmos a nossa responsabilidade na eleição Daqueles que posteriormente vão a votos.

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