São hoje discutidos e aprovada uma eventual revisão dos estatutos do PS.
É duma incrível ingenuidade dos nossos jornalistas e opinion makers, dizerem que esta é uma questão interna do PS. PSD e PS são os dois partidos de poder em Portugal, e os seus estatutos, a verdadeira "Constituição Base" da nossa Democracia.
Hoje os estatutos dos nossos principais partidos facilitam o caciquismo, fraudeeleitoral, perpetuação dos mesmos nos lugares, falta de debate e confrontação de ideias, ausência de transparência, falta de competição democrática/meritocracia, esvaziamento de militantes, sindicatos de voto, afastamento da sociedade civil e podia continuar...
Mais de 80% dos portugueses não tem qualquer confiança nos partidos e seus políticos. Não sei se esta mudança de estatutos vai globalmente no sentido certo, mas gostaria de ver os nossos principais jornais e analistas políticos a analisarem o mesmo, a escrutinarem-no, a provocarem o debate público. Seria um grande serviço que prestariam à democracia.
No excelente livro da fundação FFMS "Portugal, Divida Publica e Défice Democrático", Paulo Trigo Pereira explica que o interesse público muitas vezes vai contra os grupos de interesse que estão na política, e como tal, só pode ser defendido se a sociedade civil (a quem mais interessa a defesa do interesse público) exercer uma cidadania forte e activa fora dos partidos, mas também DENTRO dos partidos para os MUDAR internamente. Portugal caiu na banca rota pela simples razão que demasiadas vezes durante demasiado tempo, o interesse público foi subjugado pelos interesses instalados, porque a nossa sociedade civil assim o deixou. Democracia sem uma sociedade civil activa, escrutinadora e com poder dentro dos partidos, gera os resultados que hoje conhecemos.
Um dos melhores talks sobre cidadania, em que é explicado que os desafios que os Estados hoje enfrentam (seja nos serviços públicos, educação, saúde) são demasiado grandes para serem ultrapassados sem uma colaboração activa dos cidadãos que têm capacidades e competências relevantes.
A parte final é poderosa, e terminou com uma "standing ovation".
We're not going to fix government until we fix citizenship.” (Jennifer Pahlka)
Também não concertaremos os partidos, sem concertarmos a nossa cidadania política.