quarta-feira, 6 de junho de 2012

Comentário sobre os movimentos cívicos



Copio aqui um comentário de Matthieu Rego sobre uma crónica de José Reis Santos no Diário Económico muito critica sobre os partidos e apologista dos novos movimentos.

Gostava de saber a opinião deste 'espaço' sobre este artigo...
http://economico.sapo.pt/noticias/novas-esquerdas_145972.html


"A importância dos movimentos cívicos é relevante dentro do próprio quadro do associativismo. Já era existente em alguns sectores como o profissional ou por causas morais como o combate a xenofobia, direitos dos animais, criança… Portanto a existência de estruturas satélites promotoras de combates específicos é bem-vinda e necessária. 

O que acontece é que os movimentos Cívicos tornam-se cada vez mais gulosos. Falam de partidos sem nada saber deles, opinam de tudo e mais alguma coisa sem propostas concretas e consideram a aprovação de centenas como um mandato assegurado para o poder. 

Os poderosos Partidos encontram-se numa situação lastimável. Os dados apresentados pelo promotor deste projeto são elucidativos sobre a forma como este país opina muito sem nada querer ou nunca ter feito nada. Os Partidos são incómodos porque dentro deles existe pluralidade e divergência de opinião o que não é tão confortável como criar centenas de movimentos em que só se junta quem concorda completamente. É a supremacia da ideia de que “dá trabalho mudar” o melhor é fazer de novo e há minha maneira (a arrogância suprema sendo a de considerar-se demasiadas vezes como o legitimo representante do povo sem nunca ter sido escrutinado). Os políticos, os corruptos, os capitalistas e a “sociedade civil”, todos são feitos de carne humana. 

Fala do movimento para uma Esquerda livre. Estive na apresentação em Lisboa tanto na preliminar das 15h como na principal e assinei o manifesto. Terá talvez reparado que estavam na sala várias figuras socialistas, umas mais conceituadas e outros ilustres anónimos dos quais um economista cujo nome não recordo e que tive muito prazer em ouvir falar. Todos representam de uma certa forma o lado menos popular e o mais ignorado pela Comunicação Social do Partido. Todos reivindicam essa liberdade de opinião e procuram desesperadamente uma forma de conseguir um peso de militantes capazes de alterar um rumo que será sempre o mesmo se depender exclusivamente dos mesmos de sempre. 

Rui Tavares, que chegou ao poder por decisão do Bloco (um partido) que aceitou a sua independência e o colocou como deputado apesar de não sufragado, explicitou uma ambiguidade que ainda assim tem sentido. A Esquerda precisa de sair das trincheiras e encontrar a união pelo intermedio da força das individualidades. O que acontece é que a força dessas individualidades não deve limitar-se apenas a uma união de movimentos cívicos mas também de uma mudança na relação interpartidária de Esquerda. Essa postura crítica e de antagonismo na associação é o fator que pode mudar o rosto dos nossos partidos através da militância. Não fornecer apenas fanáticos beatos à procura de oportunidades profissionais mas integrar pessoas com princípios e ideias fortes inconformados com qualquer outro assunto que não seja a do resultado dentro da linha ideológica. 

Construir uma estrutura coerente e capaz de formar governo e ser eleita exige muito mais trabalho e é muito mais difícil do que organizar simples manifestações. Enquanto não existir humildade por parte dessas iniciativas e um desejo real de concretização dos seus objetivos independentemente da forma e dos parceiros terão pouco eco nos partidos despovoados e consequentemente no poder."


Matthieu Rego

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