domingo, 31 de agosto de 2014

Primárias PS - A abertura e mudança dos partidos é uma escolha que agora está nas mãos dos cidadãos.

Artigo publicado no Expresso de 30 de Agosto de 2014


Em 40 anos de democracia menos de 1 % dos portugueses já votou em eleições internas dos nossos principais partidos, nomeadamente para escolha dos seus líderes e candidatos a primeiro-ministro.

Pedro Passos Coelho e António José Seguro foram eleitos líderes dos seus partidos e consequentemente candidatos a primeiro-ministro em eleições internas em que participaram 40 mil e 30 mil militantes respetivamente, o que corresponde essencialmente aos votos dos aparelhos partidários (dirigentes e membros dos órgãos locais, concelhios, distritais e nacionais) e das suas redes de militantes “recrutados” que aparecem nos dias das eleições para votar em quem lhes indicam. Naturalmente associado ao apoio dos aparelhos vem um preço: o interesse público é frequentemente secundarizado face aos interesses que rodeiam os aparelhos com consequências negativas na qualidade dos nossos representantes políticos e opções de governação.

O que vai votos nas primárias do Partido Socialista do dia 28 de setembro não é só a decisão sobre quem no partido deve apresentar-se como candidato a primeiro-ministro. É também o processo de primárias em si. Deve a sociedade civil continuar a delegar a escolha de quem deve ser candidato a primeiro-ministro nos nossos principais partidos aos respetivos aparelhos partidários (e seus interesses) ou deve a sociedade civil que vota nesse partido (com mais ou menos regularidade) tomar essa responsabilidade em mãos e fazer essa escolha?

Esta questão, central para o aperfeiçoamento da nossa democracia será em grande medida respondida de acordo com o nível de participação dos cidadãos não filiados nestas primárias do PS.
Se participarem apenas mais algumas dezenas de milhares de cidadãos, estas primárias fracassarão nos seus objetivos de envolvimento da sociedade civil e muito dificilmente serão repetidas quer pelo PS quer por outros grandes partidos do nosso sistema político. As direções partidárias concluirão que as primárias abertas a cidadãos são uma solução para a qual a nossa sociedade civil ainda não está preparada.

Mas se estas primárias tiverem um nível de participação muito elevado, na ordem das centenas de milhares de votantes (a título exemplificativo as primárias de 2011 do PS Francês contaram com uma participação de 3 milhões de franceses, um número quase vinte vezes superior aos 170 mil militantes do partido), então será impossível aos nossos principais partidos fecharem os olhos à adesão massiva da sociedade civil ao formato das primárias e manter as suas principais escolhas monopólio dos aparelhos partidários. ~

A abertura e mudança nos partidos em prol de uma maior participação dos cidadãos tornar-se-á um caminho irreversível.Os dados estão lançados. A escolha está nas mãos (participação) dos cidadãos.




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