terça-feira, 17 de maio de 2011

M12M e Mais Sociedade: “o que faz falta é também filiar a malta”

Este ano dois movimentos de cidadãos ganharam grande protagonismo pela sua capacidade de organizar iniciativas políticas de elevado impacto, como por terem objectivos políticos relevantes: gerar um debate aberto sobre as políticas do país e influenciar a política a favor da agenda saída desses debates.

O M12M através de iniciativas Legislativas de Cidadãos procura traduzir essa influência em propostas de leis que possam ser discutidas e aprovadas no Parlamento.  O movimento Mais Sociedade, escolheu traduzir essa influência associando-se a um partido, esperando que este integre algumas das suas ideias no seu programa político e/ou convide alguns dos seus membros para cargos executivos num futuro governo.

Sendo estas iniciativas relevantes e meritórias (por trazerem novos protagonistas e ideias para o debate político), a sua acção exclusivamente “externa” aos partidos contribui paradoxalmente, para a sua fraqueza e dependência dos “interesses e lógica tacticista” dos partidos com representação no poder.

Explicação. O facto destes movimentos não terem, nem procurarem ter representação significativa na base de militantes dos principais partidos (os que os cidadãos elegem), faz com que os dirigentes partidários não tenham qualquer “pressão” interna para incluir alguma da agenda destes movimentos  nos programas dos seus partidos.

Para além disso, mesmo que havendo políticos dentro destes partidos que defendam e apoiem essas agendas, estes não têm os votos nem o apoio nas eleições (internas) partidárias desse enorme número de cidadãos que quer mudanças e se revê nas agendas destes movimentos. Ao não estarem filiados, ao não procurarem construir tendências dentro dos principais partidos, estes movimentos estão a demitir-se de intervir no espaço onde precisamente teriam maior poder de influência: os partidos políticos que nos representam. Esta auto-exclusão, ao invés, facilita e muito, o trabalho de quem dentro dos partidos, não quer qualquer mudança nem quer que novas agendas e protagonistas “contaminem” a vida e unidade dos partidos.

Concluindo, não faz sentido em democracia lutar por uma agenda de mudança, e ao mesmo tempo, excluir dessa luta, a intervenção e voto dentro dos partidos que elegemos, precisamente, o espaço em democracia, onde os cidadãos têm mais poder de mudar as políticas e políticos a favor dos suas preocupações e interesses.

A mensagem destes e outros movimentos, deveria ser também: "O que faz falta é filiar a malta"

 
João Nogueira dos Santos
http://aderevotaintervem.blogspot.com/

PS - Se puderem, façam chegar aos membros e seguidores destes e outros movimentos de cidadãos

3 comentários:

  1. Olá João

    O meu nome é Paula Gil e fui uma das organizadoras do Protesto da Geração à Rasca e actual M12M.
    Obrigada pelo teu texto! Não foi no entanto nada que já não nos dissessem.

    O objectivo do M12M não é candidatar-se a eleições, nem organizar-se enquanto partido politico. Alguns de nós contudo são filiados - desde a direita até à esquerda - e para além deste movimento têm trabalho partidário.

    Pretendemos sim uma consciencialização das pessoas. O voto consciente e informado através do conhecimento dos programas partidários para as legislativas, a discussão de didferentes pontos de vista, que possam levar a um debate alargado de alternativas, a percepção do sistema democrático e da forma como este está organizado e as suas instituições - como funcionam, etc...

    Mais do que filiarem-se, é importante as pessoas saberem porque se filiam!

    Quanto às acções, nem só de Iniciativa legislativa do cidadão vive o M12M - e esta não é uma iniciativa nossa, mas sim de mais 5 outros movimentos cívicos. Sendo necessário recolher 35 000 assinaturas para ser levada a AR, esta iniciativa é também uma forma de pressão e de participação democrática que envolve as pessoas na vida politica activa! Porque nem só de partidos vive uma democracia!

    Percebo no entanto o teu argumento e agradeço a oportunidade de debate!

    Cumprtimentos

    Paula Gil

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  2. Se o objectivo do Movimento M12M é informar politicamente os cidadãos e incentiva-los a fazer a contribuir para mais e melhor política nos locais adequados, só podem ter o meu apoio e parabéns pelas vossas iniciativas.
    Se mal vaia política nacional não é por excesso de pessoas envolvidas na política, mas sim pelo seu oposto.

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  3. Olá Paula,

    Antes de mais obrigado pelo comentário. Como já tive a oportunidade de escrever e dizer, acho muito relevante e excepcional o trabalho que têm vindo a fazer, desde a organização da manifestação e agora no movimento M12M.

    O essencial que procuro chamar a atenção, é que os movimentos que têm vindo a desenvolverem-se nos últimos tempos, deviam incentivar, esclarecer, discutir com os seus seguidores, a necessidade vital dos cidadãos filiarem nos partidos, pois os partidos não são “antros de bandidos”, mas sim o espaço onde em democracia os cidadãos organizam a sua vontade política e elegem os seus representantes nos órgãos de poder. E a qualidade dos partidos depende exclusivamente dos cidadãos, da sua participação e escolhas, ou falta delas.

    Os partidos serão tanto piores, quanto menos cidadãos e sociedade civil tiverem, pois perderão representatividade e serão muito mais facilmente dominados por pequenos grupos de interesse e clientelismos que nada servem o país. Serão tanto melhores quanto mais cidadãos livres e independentes (de interesses) constituírem a sua base de filiados, que elege os dirigentes, lideranças, vota programas, pede contas, denuncia abusos, traz ideias.

    É um passo atrás na cidadania política e nos objectivos de mudança que todos desejamos, se voluntária ou involuntariamente, se se ignorar a necessidade de participação nos partidos, ou se insistir num discurso que cave ainda mais o fosso entre os cidadãos os partidos. Este tipo de discurso (como observei na palestra do Prof. Boaventura Sousa Santos no vosso evento) torna os cidadãos e os movimentos, cada vez mais fracos, pois não têm voz nem voto dentro dos partidos que têm o poder, nem qualquer influência na eleição dos seus dirigentes e lideranças.

    Deixo aqui o link para a excepcional apresentação no 10º Ignite Portugal da Catarina Martins do BE sobre a necessidade de participar onde as coisas se decidem, os partidos:

    http://www.youtube.com/watch?v=mrnegZPPyhg&feature=player_embedded#at=141

    Faço votos que continuem o vosso excelente trabalho,
    João Nogueira Santos

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